Páginas

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Le Bel Après-Minuit

Mais branca que a neve e os cristais de sal
A flora da noite desabrocha
E cresce ocupando os espaços do céu
Onde o cavalo azul relincha, escoiceia e desabala

Rumo a prados salpicados de estrelas recentes
Através de miríades de astros e reflexos
Dando tudo o que pode e enlameando as nuvens
Mergulha no mais fundo das trevas leitosas

Desenrolando a fita dos ciclos abolidos,
Os mais curtos curvando-se sob o peso do Crepúsculos
Por ter de muito perto sóis de brilhos pálidos
Se aproximando do rubor da Lira e de Hércules

Mas a lua a essa hora vestida de noiva
Arrasta a seus brancos pés a nebulosa e branco
Branco qual amanhecer no mar petrificado
O carneiro da aurora prepara o impulso

O cometa na fronte colocou faíscas
Bela negra ó lua onde vais tão calmamente
Encontrar teu esposo de olhos amendoados
Cujo leito Vênus com seu corpo galante aqueceu?

Champanhas correi nas constelações
Se os vinhos são qual estrelas líquidas
Encontremos ó Borgonha em ti a criação
Dos monstros fabulosos do éter e do vazio

Faremos surgir amassando as uvas
Mercúrio e Júpiter e o Câncer e a Ursa
Apesar dos faiscantes reflexos do vinho
E do sol banhado no frescor das fontes

Ó belo pós-meia-noite escoltado de lendas
Arrasta mais um par para as valsas do desejo
A fim de que o lasso bebedor peça de novo
Que lhe enchas o copo com o sangue das lembranças.


Robert Desnos, Le Bel Après-Minuit

Nenhum comentário:

Postar um comentário